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Áreas verdes escassas tornam piores as ondas de calor em Ribeirão Preto

Clima extremo em Ribeirão Preto fica pior pela falta de cuidado com as áreas verdes já existentes

A transição entre o inverno e a primavera, em 2023, trouxe consigo uma forte onda de calor. Ribeirão Preto, que bateu recorde de temperatura em setembro ao ultrapassar os 41 graus, segundo a Climatempo, já é conhecida por seu clima quente, mas altas temperaturas revelam despreparo para lidar com o calor extremo. Enquanto os termômetros sobem, em consonância com as mudanças climáticas e fenômenos como o El Niño, as ruas de Ribeirão Preto destacam um problema crucial que vai além do desconforto: a falta de áreas verdes.


Os números do Inventário Amostral da Arborização de Acompanhamento Viário, divulgados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) de Ribeirão Preto, referentes ao ano passado, demonstram que apenas 12,7% da cidade possui vegetação durante a estiagem, que costuma se estender até o fim de setembro, uma porcentagem muito abaixo dos 30% recomendados por especialistas.

Situação arbórea de Ribeirão Preto é insuficiente para amortecer altas temperaturas (Foto: Christo James V/Pexels)

O professor Marcelo Marini, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, especialista em gestão e avaliação de impacto ambiental, indica que o índice de arborização, muitas vezes utilizado como métrica, pode mascarar a realidade das áreas verdes públicas, que frequentemente se mostram insuficientes para atender às necessidades das comunidades urbanas. “O índice de arborização deve ser encarado não apenas como uma medida quantitativa, mas como um chamado à ação para investir em espaços verdes acessíveis e bem conservados, essenciais para o bem-estar das gerações presentes e futuras”, afirma. Ele diz que essa ação inclui, em Ribeirão Preto, cartilhas educativas sobre o uso do solo para os moradores, por exemplo, com indicações de quais mudas e como plantá-las.


Planejamento de arborização urbana

Marini defende que o foco das políticas ambientais do município deve ser redirecionado para a expansão efetiva das áreas verdes públicas, tais como praças, áreas de preservação permanente e parques, argumenta o professor. “O que deveria ser feito é um plano de arborização urbana não apenas das ruas, mas também dos parques, das áreas verdes públicas, das áreas de preservação e das beiras de rios”, explica.


Para o professor, a arborização urbana envolve conhecimentos especializados e os cidadãos não devem assumir maior responsabilidade pela implementação dessa política. “A pessoa não pode sair plantando a árvore que acha que tem que plantar, onde ela acha que tem que plantar. Ela não é especialista e a arborização urbana é uma área técnica”, afirma. Ainda de acordo com ele, a implementação de um plano técnico é crucial para evitar árvores mutiladas e problemas resultantes de abordagens aleatórias.


Ao invés de distribuir mudas indiscriminadamente, ele reforça que um plano de arborização urbana deve ser cuidadosamente elaborado, identificando as áreas em que as árvores serão plantadas e as espécies mais adequadas para cada local. Quanto à participação dos munícipes, o poder público deve restringir-se a informar os moradores sobre o processo, destacando as espécies escolhidas e disponibilizando assistência técnica.


Calor extremo e áreas verdes

Cidade de Ribeirão Preto (Foto: Mateus Mateus Záccaro/Wikipédia)

A ausência de árvores nas áreas urbanas da cidade torna-se evidente quando os cidadãos, em busca de sombra, encontram poucos refúgios. Em meio à escassez de vegetação, as ruas se transformam em corredores de calor, aumentando significativamente a sensação térmica. Estudos reiteram constantemente que a presença de árvores nas áreas urbanas é fundamental não apenas para embelezar a paisagem, mas também para reduzir as temperaturas, criar microclimas mais agradáveis e garantir uma melhor qualidade de vida.


Para Marini, esta falta de áreas verdes é, também, uma questão de saúde pública. A exposição prolongada ao calor pode levar a uma série de problemas de saúde, tornando essencial para a cidade investir em arborização urbana para amortecer os efeitos extremos de fenômenos climáticos como o El Niño. “A árvore também tem uma característica de deixar a cidade mais agradável do ponto de vista de temperatura? Claro, mas também do ponto de vista psicológico é mais agradável”, explica Marini. “As pessoas procuram parques, áreas arborizadas para descansar, para contemplar, para fazer exercícios e assim por diante”, complementa.


O acesso aos espaços verdes que permitem esse lazer também é limitado. De acordo com Marini, a situação arbórea atual de Ribeirão Preto revela, inclusive, uma estrutura segregacionista. “As zonas mais pobres, como a leste e a norte, não têm parques. A arborização é péssima, os canteiros de avenidas são péssimos”, critica.


Em listas de cidades mais arborizadas do País, Campinas, Curitiba, Goiânia e outras são citadas. Porém, para o professor, Ribeirão Preto deveria se afastar de políticas ambientais segregacionistas, que se repetem em algumas dessas cidades, e desenvolver um plano que aproveite áreas públicas de zonas periféricas do município, que estão abandonadas. “Só na zona leste, tem mais de 1,2 milhão de metros quadrados de área verde pública abandonados”, cita, reconhecendo que existe um descompromisso da Prefeitura com áreas verdes abandonadas.


Resposta da Prefeitura

Em nota, a SMMA (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) declara que o Plano Diretor vigente, de 2018, dispõe leis complementares que se referem à escassez de árvores no município e visam a estratégias para a adaptação das áreas verdes às mudanças climáticas, como a Política Municipal de Meio Ambiente (PMMA), o Plano Estratégico do Sistema de Áreas Verdes e Arborização Urbana (Pesavau) e o Plano Municipal da Mata Atlântica e Cerrado.


Quanto às estratégias, o órgão cita o plantio de 24 mil mudas em áreas verdes públicas entre 2022 e 2023 e 3,9 mil novos plantios no mesmo período em parceria com campanhas voluntárias no município. Além disso, a Secretaria alega participação em eventos para realizar plantios simbólicos e colaboração em projetos de paisagismo em novos loteamentos e condomínios.


A pasta afirma que “foram destinados recursos expressivos para manutenção da floresta urbana” e que “foram plantadas nesse período aproximadamente 28 mil mudas, seja em virtude do plantio voluntário efetuado por organizações locais e pela população ou em decorrência de termos de compromisso”.


Sobre a falta de efetividade nas cartilhas educativas, citadas por Marini, a Prefeitura reconhece que “o alcance das cartilhas não alterou o padrão de plantios e dos cuidados com a arborização da cidade”, mas cita que a população é resistente à implementação de árvores nas vias públicas e que o trabalho de comunicação social e educação ambiental “merecerá atenção no Plano Estratégico do Sistema de Áreas Verdes e Arborização Urbana”, que segue em elaboração em 2023.


Por fim, a Prefeitura aponta que a urbanização “pode ter contribuído com a diminuição da cobertura vegetal na zona leste” na última década. A SMMA ressalta a implementação de um total de 9,2 mil mudas distribuídas naquela região, em bairros como Parque Cândido Portinari, Parque dos Flamboyants, Parque São Sebastião, Parque dos Servidores, Jardim São José e Ribeirânia, entre 2022 e 2023.



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